Quem vive em Itabaianinha conhece bem uma vocação que há muito tempo é característica de seu povo: o talento para o mercado de confecções. Essa atividade, que segundo dados da Secretaria de Indústria e Comércio do município é responsável por garantir trabalho a cerca de cinco mil pessoas (o equivalente a 12% da população local), tem nos últimos anos desbancado outros dois importantes segmentos da economia local, a agricultura e a cerâmica, e colocado a cidade no roteiro do mercado da moda.
Aliás, pode-se dizer que Itabaianinha se transformou na ‘capital sergipana da moda’. A frase é repetida com orgulho pelos empresários da região e simboliza uma conquista que é resultado de um longo processo de qualificação da mão de obra, melhoria do processo de gestão das empresas, investimento público e privado e, porque não dizer, uma dose de ousadia de seus empreendedores.
A paixão dos moradores pelo mercado de confecções teve início há quase vinte e cinco anos, quando Jairo Lima de Carvalho, um itabaianinhense que resolveu tentar a vida em São Paulo, resolveu voltar à terra natal com a proposta de desenvolver uma nova atividade. Com toda a experiência adquirida sobretudo pela atuação no bairro do Brás, ele decidiu investir na criação da primeira indústria de confecções da cidade.
A ideia do empresário era que a produção desse novo empreendimento ajudasse a abastecer o mercado paulista. Surgia assim a Grippon. Começando a atividade praticamente do zero, Jairo percebeu a necessidade de formar os trabalhadores que iriam trabalhar na fábrica. Para isso, trouxe profissionais de São Paulo para treinar os moradores, fez parcerias com instituições de fomento ao empreendedorismo, como o Sebrae e o Senai, e em pouco tempo deu início aos trabalhos.
Naquele momento a produção era toda voltada à confecção de artigos masculinos, a chamada ‘modinha’, como shorts, camisas e blusas de malha. A ideia deu certo e aos poucos a economia da cidade, que até então era essencialmente agrícola, passou a ter um novo impulso.
Surgem as facções
Mesmo com o sucesso da empresa, Seu Jairo, como era mais conhecido, resolveu que era preciso ousar. Decidido a mudar o rumo do negócio, passou a estimular os trabalhadores a criar suas próprias indústrias de confecção e garantiu que a produção dessas novas fábricas seria adquirida pela Grippon. Além disso, os empreendedores também estariam livres para comercializá-la com outros compradores, o que permitiria assim aumentar o rendimento da atividade.
A iniciativa deu certo e logo começaram a surgir as primeiras facções, que era o nome dado a essas pequenas fábricas. Com o tempo, cada vez mais gente ia aderindo à ideia e a cidade passou a conviver com uma nova rotina: o barulho das máquinas de costura e o vai e vem de veículos transportando a produção.
Com o trabalho nas facções já consolidado e sentindo que a sua “missão” havia sido cumprida, Jairo decide fechar a Grippon e sugere aos empresários da região que ocupem o antigo espaço da fábrica, cedendo o espaço para a instalação das pequenas confecções. Muitos aceitam a proposta e surge então o Polo de Confecções de Itabaianinha.
Percebendo a necessidade de “caminhar com as próprias pernas”, os empresários decidem trabalhar de maneira coletiva e fundam a Associação dos Confeccionistas de Itabaianinha (ASK). “Vimos que era preciso estar unidos para enfrentar os novos desafios e que era mais fácil conseguir ajuda de outras instituições se trabalhássemos juntos. Criar uma entidade que conseguisse nos representar era o primeiro passo”, explica Rivanda Alves, atual presidente da ASK e uma das fundadoras da associação.
Mudança de imagem
No início as coisas foram caminhando bem. A maior parte da produção era adquirida por empresários de fora do estado, o que garantia a continuidade dos trabalhos. Porém, com o tempo, os empresários de Itabaianinha foram sofrendo com a concorrência de produtos chineses e de outros estados, o que levou muitos empreendedores a desistir do negócio.
Preocupados com esse cenário, os empresários resolveram agir. “Percebemos que seria difícil enfrentar essa concorrência e que se continuássemos trabalhando da mesma maneira mais confecções iriam fechar. Decidimos investir na melhoria da qualidade para tentar alcançar um novo público e mudar um pouco a imagem que a nossa produção tinha”, destaca o secretário de Indústria e Comércio de Itabaianinha, Jairo Floriano.
Por meio da associação, eles buscaram o apoio do Sebrae e a partir daí uma série de ações começou a ser implementada. As empresas passaram a contar com capacitações sobre design, inovação, marketing, finanças, além de ter a oportunidade de acompanhar as novas tendências do mercado da moda por meio de visitas a grandes eventos, como a São Paulo Fashion Week, a Feira Brasileira da Indústria Têxtil em Blumenau (SC) e o Moda Center, em Santa Cruz do Capibaribe (PB).
As atividades deram resultado e os empresários investiram na diversificação da produção. Surgiram as coleções voltadas ao mercado infantil e às mulheres, foi criada a primeira loja dedicada ao público plus size, além daquilo que seria o carro chefe do Polo atualmente: a moda fitness.
As vendas começaram a aumentar e mesmo diante desse novo cenário os empreendedores decidiram inovar. Em parceria com o Sebrae e a Prefeitura da cidade criaram em 2017 o Moda Mix, que hoje é considerado o maior evento do setor estado. A proposta era apresentar ao público todo o potencial do polo têxtil e mostrar em primeira mão as novas coleções.
“ Podemos dizer que o Moda Mix foi um grande divisor na história do nosso Polo. A partir do evento profissionalizamos mais a nossa atividade e vimos que era possível concorrer com qualquer outra empresa. Hoje as nossas marcas são mais conhecidas e conseguimos alcançar um público que até então atingíamos”, pontua a empresária Cláudia Alves dos Santos.
Novidades
E para quem pensa que as novidades no Polo ficaram por aí, tem mais coisa surgindo. Desde o ano passado o empresário Cláudio Roberto decidiu investir na confecção de jeans, um produto que até então nunca havia sido fabricado na cidade.
“ A nossa produção gira em torno de cinco mil peças mensais. A falta de uma lavanderia e de oficinas que consigam atender à nossa demanda são os grandes limitadores do negócio hoje. Temos mercado para vender vinte mil calças e shorts por mês e estamos buscando alternativas para conseguir atende-lo”, explica.
O processo de criação das peças é feito em várias etapas. Os modelos são criados com a ajuda de uma modelista em São Paulo. Já a matéria prima é adquirida junto à uma fábrica na cidade de Estância. Em Itabaianinha o jeans é cortado e costurado. Como ainda não há uma lavanderia capaz de dar conta da produção em território sergipano, os artigos são enviados para cidade de Toritama (PE). Após o processo de lavagem, eles retornam a Itabaianinha para o acabamento.
Para ajudar os empreendedores a continuar desenvolvendo suas atividades e melhorar o ambiente de negócios no município, o Sebrae também elaborou um planejamento estratégico com ações que deverão ser implementadas por meio de parcerias entre o setor empresarial, órgãos de fomento e o poder público.
“ Entre os objetivos que traçamos estão a divulgação do Polo de Moda por meio de um plano de marketing que permita atrair clientes e possíveis investidores do segmento, a melhoria da competitividade das empresas, o incentivo à qualificação profissional, a conquista de novos mercados para os produtos, a melhoria da imagem do Polo, além da promoção de ações de responsabilidade socioambiental”, destaca a analista técnica do Sebrae, Aldeci Andrade.
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