Os empreendedores negros foram os que mais sofreram os efeitos negativos da crise sanitária nos últimos anos, com perdas significativas no faturamento e com menos acesso a crédito. É o que revelou a 14ª edição da pesquisa sobre o impacto da pandemia de coronavírus nos pequenos negócios realizada pelo Sebrae e a Fundação Getulio Vargas (FGV).
O levantamento aponta que esses donos de negócios registraram uma queda de 62% no faturamento em relação ao período pré-pandemia – número maior do que o registrado no extrato de empreendedores brancos (56%). Essa queda de faturamento entre os negros alcançou a marca de 27%, percentual também superior ao dos brancos, que foi de 20%.
O recorte por raça aponta ainda que tanto os entrevistados brancos quanto negros indicaram como principais dificuldades o aumento de custos, a falta de clientes e as dívidas com empréstimos. No entanto, os negros lideram a porcentagem de empresários com dívidas e empréstimos atrasados, com 35%; entre os brancos, é de 27%. Nesse mesmo quesito, a pesquisa constatou outro cenário desafiador: entre os negócios endividados, o sufoco para os negros é ainda maior e para 64% deles o pagamento de débitos supera 30% dos custos mensais. Entre os brancos, cai para 54%.
Desde o começo da pandemia, em 2020, 51% dos empreendedores negros buscaram empréstimo contra 49% dos brancos. Apesar de procurarem mais apoio das instituições financeiras para quitar suas pendências, 47% da população empreendedora negra teve seu pedido negado. Nesse quesito, apenas 34% dos brancos não tiveram sucesso.
“ Essa é uma realidade que já observávamos no dia a dia. Demorando para recuperar o faturamento e sem conseguir crédito, é mais difícil para o negro ser empreendedor no Brasil e a pandemia deixou ainda mais clara essa desigualdade social. É preciso intensificar a concessão de crédito para essa parcela da população e o Sebrae tem atuado para promover políticas eficientes para alavancar os pequenos negócios brasileiros”, explica o superintendente do Sebrae, Paulo do Eirado.
Investimento
Por outro lado, o percentual de empreendedores negros que resolveram investir no próprio negócio nos últimos dois anos é superior ao verificado entre os brancos (47% a 45%). Eles investiram principalmente em máquinas e equipamentos (39%), ampliação do espaço físico (25%) e instalações (21%).
Quarenta e três por cento dos empreendedores negros disseram que ainda encontram muitas dificuldades para manter o negócio em funcionamento. Esse percentual também é superior ao verificado entre os brancos (40%). Para 18% dos negros, o pior da crise já passou. Entre os brancos, o índice foi de 20% dos entrevistados.